“O planeta sobreviverá, quem está em risco somos nós”, Leandro Karnal reflete sobre mudanças climáticas e o futuro da humanidade
Publicado em 7 de novembro de 2025
Palestra ocorreu durante o 5º Summit Ambiental do Hospital Moinhos de Vento, realizado em Porto Alegre, nesta quarta-feira (5)
O historiador e professor Leandro Karnal instigou um momento de reflexão sobre os desafios ambientais e sociais, a partir das mudanças climáticas e o futuro da humanidade na palestra de abertura do 5º Summit Ambiental, realizado pelo Hospital Moinhos de Vento, nesta quarta-feira (5). Karnal chamou a atenção para uma ideia central, já no início da sua análise. “O planeta sobreviverá. Quem está em risco não é o planeta, somos nós.” A afirmação serviu de ponto de partida para uma observação sobre como as escolhas e os comportamentos humanos mudaram ao longo da história e moldaram o cenário atual.
Fenômenos como enchentes sempre existiram, mas, na visão de Karnal, a forma como as cidades estão sendo urbanizadas e canalizadas agrava os impactos naturais. “O mundo urbano dominante trouxe novos desafios e um deles é a nossa dificuldade em perceber os sinais que o ambiente nos dá”, destacou, recorrendo à conhecida metáfora do sapo na panela com água quente: se colocado em água fervendo, o animal pula rapidamente; mas se a temperatura subir lentamente, ele não percebe o perigo e acaba morrendo. “Estamos vivendo essa mesma lógica com o avanço das mudanças climáticas”, alertou.
O palestrante também chamou atenção para novas ameaças invisíveis, como os microplásticos, e para o avanço de um futuro fundamentalista, no qual decisões e opiniões nem sempre se baseiam em dados. Por isso, reforçou a importância de análises racionais e baseadas em evidências científicas diante das crises globais. “As questões ambientais estão profundamente ligadas a temas de gênero e classe social, e o enfrentamento da crise climática requer responsabilidade coletiva”, afirmou.
Encerrando a palestra, Karnal enfatizou o protagonismo humano como parte do problema e também da solução. “O preço de existir é alto, mas onde há problema, o humano desenvolve uma resposta. Eu posso fazer a minha parte e cada um pode fazer a sua. O possível já existe e é o que estará ocorrendo na COP30 nos próximos dias”, concluiu.
Mudanças climáticas e os impactos na saúde
As mudanças climáticas deixaram de ser um desafio distante e os impactos fazem parte da atual realidade do mundo. O Rio Grande do Sul viveu, em 2024, um dos momentos mais desafiadores da história com as enchentes que assolaram o Estado. Ao longo da programação do 5º Summit Ambiental, o Hospital Moinhos de Vento reafirmou a sua jornada ambiental como um compromisso e aprendizado contínuo.
Na fala de abertura do evento, o CEO do Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini, destacou o evento como um manifesto em favor da sustentabilidade. “Falar de cuidado com a saúde é falar diretamente do cuidado com o meio ambiente. Um momento como o Summit Ambiental é também uma oportunidade de prestarmos contas sobre aquilo que estamos fazendo nesta temática e os resultados corroboram nosso compromisso com a sustentabilidade”, ressaltou Parrini.
Ao longo da programação, especialistas de diversas áreas debateram a relação direta entre clima e saúde, destacando como o aumento de eventos extremos e a degradação ambiental afetam o bem-estar das populações e desafiam os sistemas de saúde em todo o mundo. Outros painéis abordaram temas como os desafios e estratégias das indústrias farmacêuticas para reduzir impactos ambientais e promover inovação sustentável, além das perspectivas estratégicas para hospitais e sistemas de saúde no Brasil diante da crise climática.
Representantes do poder público também apresentaram ações governamentais voltadas à mitigação das emissões de gases de efeito estufa e à resposta a eventos climáticos extremos, reforçando a importância de políticas integradas entre os setores de saúde, meio ambiente e gestão pública. Os painelistas foram unânimes ao apontar que a resiliência climática depende de planejamento, treinamento e gestão intersetorial, com políticas públicas e institucionais capazes de preencher lacunas e preparar o sistema de saúde para os próximos eventos extremos.


