Governo anuncia pacote contra inflação de alimentos sob ceticismo de economistas Por Welinton dos Santos, Economista e Analista de Políticas Públicas
Publicado em 8 de março de 2025
Contexto Político e Pressão Popular
Em meio à menor popularidade de seus três mandatos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acelerou a implementação de medidas para conter a alta de preços dos alimentos, setor que acumulou inflação de 7,69% em 2024. A pressão se intensificou após declarações polêmicas do presidente, que atribuiu parte da responsabilidade aos consumidores: “Se você desconfia que um produto está caro, não compre”. A estratégia, no entanto, foi anunciada sem a presença de Lula ou do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cabendo ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) liderar a divulgação.
Foram propostas seis medidas chaves:
Zerar o Imposto de Importação de alguns alimentos, como uma medida mais emblemática elimina tarifas de 10,8% (carnes) a 32% (sardinha) para itens como café, açúcar e macarrão. O objetivo é aumentar a competição interna, mas especialistas alertam: produtos como o açúcar têm baixo fluxo de importação, o que pode limitar o efeito imediato.
Flexibilização Sanitária, municipalizações da inspeção de produtos de origem animal buscam ampliar a oferta de alimentos regionais. A meta é atingir 3.000 estações autorizadas entre os 5.571 municípios. Para Carlos Fávaro (Agricultura), a medida “beneficia a agricultura familiar”, mas existe o risco de despadronização.
Estoques Reguladores, reativar estoques públicos, quase extintos em governos anteriores, visa estabilizar preços em crises. A estratégia, porém, esbarra em custos logísticos e na falta de clareza sobre fontes de financiamento.
Parceria com Supermercados, campanhas de promoção de preços baixos dependem de adesão voluntária do varejo.
Subsídios ao Plano Safra, ampliação de crédito para médios produtores mira aumento da oferta, mas ignora gargalos históricos, como custos de transporte e dependência de insumos importados.
Redução do ICMS Estadual, o apelo a governadores é visto como “medida paliativa”, já que estados enfrentam restrições fiscais e disputas judiciais sobre repasses federais.
Impacto Fiscal, aqui fica a retórica e os números. O governo evitou detalhar a renúncia fiscal do zeramento de impostos. Guilherme Mello (Fazenda) admitiu que “o impacto arrecadatório será insignificante”, priorizando a redução de preços. No momento existe uma inflação estrutural, além de grandes negociações sofre a reforma tributária.
O setor privado vê um otimismo cauteloso, empresários reconhecem o potencial de curto prazo, mas destacam incertezas, como a questão do monitoramento do açúcar e a reação no mercado é apenas um dos exemplos.
As medidas refletem uma tentativa de equilibrar pressão política e pragmatismo econômico. Enquanto o governo aposta na percepção de ação rápida, economistas reforçam que “quando falamos de inflação alimentar, é necessário soluções sistêmicas, não apenas ajustes marginais”. O sucesso dependerá da capacidade de articular políticas de longo prazo — um desafio em um cenário de popularidade em queda e restrições fiscais.


