Volta às aulas e desafios perigosos: como proteger os filhos de armadilhas na internet
Publicado em 5 de agosto de 2025
Com a chegada do novo semestre escolar, aumenta não só o volume de tarefas, mas também o tempo de exposição de crianças e adolescentes aos ambientes digitais, sejam eles redes sociais, jogos online ou aplicativos de mensagem. E, com isso, crescem também os riscos.
A especialista Marcella Jardim (@falaseriotia), sexóloga, educadora sexual, psicanalista, e professora de filosofia alerta: “A internet pode ser uma ferramenta maravilhosa, mas, sem orientação, se transforma num território perigoso para quem ainda está em formação”.
Segundo ela, o uso intenso de dispositivos para atividades escolares e lazer pode abrir caminho para uma série de armadilhas online, como a exposição a conteúdos pornográficos e violentos, o aliciamento por adultos mal-intencionados, o cyberbullying, a divulgação indevida de dados íntimos e a participação em desafios perigosos. “As crianças muitas vezes acessam conteúdos inapropriados sem nem procurar por eles. É preciso falar sobre isso de forma responsável, sem moralismo, mas com afeto e informação clara”, afirma.
O impacto emocional e psíquico dessa exposição precoce é profundo. “Ela pode antecipar vivências emocionais para as quais a criança não tem estrutura, gerar confusão, vergonha, ansiedade e comprometer o desenvolvimento saudável da sexualidade e da imagem corporal”, explica Marcella. A exposição constante à pornografia, por exemplo, transforma o corpo em algo descolado do afeto, distorcendo o desejo e normalizando relações violentas. Já os desafios e “brincadeiras” que circulam nas redes, como os de automutilação, muitas vezes sinalizam um pedido inconsciente de conexão e reconhecimento. “É essencial que os pais estejam atentos aos sinais silenciosos: mudanças de comportamento, frases de autodepreciação, isolamento, alterações no sono e alimentação”, destaca a psicanalista.
Para prevenir, a especialista defende a supervisão consciente, sem invasão. “Não se trata de espionar, mas de construir uma relação com confiança. Estabelecer combinados, conversar sobre o que se vê online, entender os interesses digitais dos filhos e, principalmente, estar emocionalmente presente”. Ela enfatiza que adolescentes supervisionados emocionalmente, ou seja, que têm com quem conversar e se sentem acolhidos, tendem a se expor menos e buscar menos validação perigosa fora de casa.
Marcella também chama a atenção para os efeitos das redes sociais na formação da identidade dos jovens. “A adolescência é um período em que tudo está em construção. E quando o espelho se torna a tela do celular, com seus filtros, curtidas e padrões irreais, há um risco grande de o jovem perder a referência de si mesmo”. Isso pode resultar em transtornos alimentares, ansiedade, baixa autoestima e um sentimento constante de inadequação.
Sobre o tempo de tela, a orientação é clara: limites são necessários, mas precisam vir acompanhados de diálogo. “É preciso equilibrar o digital com atividades físicas, sociais, criativas e até com o tédio, que é importante para estimular a criatividade e a autonomia”. Para isso, Marcella recomenda definir horários, supervisionar o tipo de conteúdo acessado, promover momentos offline em família e, acima de tudo, manter o canal de conversa sempre aberto.
Ela reforça ainda o papel fundamental da escola nesse processo. “A escola precisa ser um espaço seguro para acolher, refletir e orientar. Educação digital, emocional e sexual não são assuntos delicados: são urgentes. E quando família e escola caminham juntas, quem ganha são as crianças e adolescentes”.
Em tempos de hiperconectividade, proteger não significa proibir tudo, e sim ensinar a usar com consciência. “Mais do que bloquear, é preciso fortalecer o discernimento. Quando o adolescente sente que pode contar com os pais, ele não precisa se esconder deles”, conclui.
FONTE:
Marcella Jardim (@falaseriotia), sexóloga, educadora sexual, psicanalista, e professora de filosofia


