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Cólica renal: dor intensa confundida com dor lombar e abdominal deve ser investigada

Publicado em 28 de setembro de 2022

 

 

A famosa cólica renal é caracterizada por um quadro de dor lombar intensa com irradiação para a região lateral do abdome e frequentemente para a região genital. A dor pode ser tão forte que chega a causar náuseas e vômitos.
dor nos rins

Muitas pessoas podem acreditar que estão com dor lombar ou abdominal, mas o problema pode ser renal, de forma que algumas crises de dores intensas devem ser investigadas por um médico nefrologista. “Quando o cálculo está localizado dentro dos rins, o paciente pode não apresentar sintoma nenhum e o diagnóstico ser feito por acaso, através de um exame de imagem abdominal como ultrassom ou tomografia. Entretanto, estima-se que metade desses pacientes sem sintomas apresentarão uma crise de cólica renal em um período de 5 anos. Quando o cálculo sai do rim e obstrui o canal urinário (ureter), ocorre a famosa cólica renal, um quadro de dor lombar intensa, de início súbito, com irradiação para a região lateral do abdome e frequentemente para a região genital. A dor pode ser tão forte que chega a causar náuseas e vômitos. Muitas vezes vem acompanhada de sangue na urina por lesão da via urinária provocada pela pedra”, explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Dentre os sintomas, os mais comuns são: ardência ao urinar, sangue na urina, sensação de bexiga cheia, diarreia, infecções urinárias e suspensão ou diminuição do fluxo de urina. “Como os sintomas podem ser confundidos com outras condições clínicas abdominais, a avaliação médica é fundamental”, completa a médica.

De acordo com a nefrologista, o cálculo renal é uma condição muito prevalente. “Uma em cada dez pessoas ao longo da vida pode ter cálculo renal. Além disso, doenças e condições muito atuais como obesidade, pressão alta e diabetes são fatores de risco para a sua formação. Os cálculos tendem sempre a se repetir. O paciente pode necessitar de diversas intervenções cirúrgicas e internações, reduzindo sua qualidade de vida, levando ao absenteísmo no trabalho e até a quadros de dor crônica, quando os cálculos não são devidamente tratados/ investigados”, afirma a especialista. A médica destaca que, caso não seja tratada corretamente, em 5 anos haverá 50% de chance de o paciente voltar a ter cálculos renais, com nova dor e sintomas relacionados à passagem da pedra pelo trato urinário, até a obstrução do rim, que requer cirurgia de urgência.

Os sinais de atenção de uma cólica renal incluem: cólicas persistentes (mais que 72 horas de duração), obstrução do ureter em portadores de rim único e infecção urinária grave. “Nestes casos, o cálculo deve ser retirado com urgência ou, na impossibilidade de retirada naquele momento, deve-se drenar a via urinária para que não ocorra complicações sérias no rim. O cálculo poderá ser extraído através da ureteroscopia, em que uma microcâmera entra no ureter e com uma pinça puxa-se a pedra. Em algumas situações, é colocado um cateter chamado “duplo J” dentro do ureter para ajudar na drenagem de urina para a bexiga, já que o cálculo está obstruindo sua passagem. Esse cateter é de uso provisório e deverá ser retirado após algumas semanas”, diz a médica. “Se houver infecção urinária grave, opta-se pela nefrostomia percutânea. Consiste na realização de um pequeno orifício na região lombar e passagem de uma sonda até o rim, para que ocorra drenagem da urina. Após tratamento da infecção, a pedra pode ser retirada”, explica.

Para evitar as cirurgias e tratamentos invasivos, é muito importante, pontua a especialista, fazer exames de rotina e consultar um médico nefrologista, que irá investigar a causa das pedras e se há alguma doença por trás dessa formação. “A investigação consiste basicamente na análise de algumas substâncias (cálcio, citrato e ácido úrico) na urina coletada em 24 horas, dosagem de algumas substâncias no sangue (cálcio, fósforo, paratormônio, gasometria venosa) e revisão da dieta para verificar se há algum desvio que favoreça a formação das pedras. Após a análise dos resultados, o nefrologista poderá recomendar um tratamento dietético e/ou medicamentoso para evitar o surgimento de novos cálculos, além de impedir que os cálculos já existentes não aumentem de tamanho. O uso de medicamentos será necessário se for detectada alguma alteração no estudo metabólico. Por exemplo, a hipercalciúria idiopática é tratada com hidroclortiazida ou clortalidona que reduzem a quantidade de cálcio na urina. Já na hipocitratúria e na hiperuricosúria, está indicado o citrato de potássio. Seja qual for o medicamento, nenhum deles terá o efeito de dissolver a pedra, mas evitarão que aumente de tamanho ou que apareçam novos cálculos”, explica a Dra. Caroline Reigada, que enfatiza: “Não use nenhum destes medicamentos sem a orientação de um médico.”

Como evitar – Dentre as orientações e medidas para evitar a formação de cálculos renais, a médica destaca: a perda de peso, que pode ajudar na prevenção de pedras, além de reduzir o risco de desenvolver hipertensão e diabetes; suspender o uso de qualquer medicamento que estimule a formação de cálculos; e uma dieta adequada, que é fundamental na prevenção dos cálculos, pois a composição da urina está diretamente relacionada com a alimentação. “Hábitos alimentares saudáveis são recomendados, com a ingestão de no mínimo de 2,5 a 3,0 litros de líquidos por dia, de preferência água e sucos naturais – e não consumir sucos artificiais ou refrigerantes; usar pouco sal no preparo dos alimentos e evitar os que já são salgados; preferir temperos naturais para dar sabor à comida (alho, cebola, salsinha, cebolinha, coentro, limão ou outros de sua preferência); evitar embutidos (temperos e molhos prontos, enlatados, conservas, queijos amarelos, sopas de pacote e macarrão instantâneo, carnes salgadas, salgadinhos para aperitivos, bolachas salgadas ou doces recheadas, margarina ou manteiga com sal, requeijão normal ou light, maionese pronta, patês)”, explica a nefrologista. Quanto à montagem das refeições, é necessário se atentar aos macro e micronutrientes: preferir carnes magras, peixe ou frango sem pele, evitando proteínas em excesso, principalmente as de origem animal; minimizar o consumo de carboidratos, dando preferência aos alimentos integrais, pois contêm fibras que auxiliam no funcionamento intestinal; ingerir verduras em folhas no almoço e jantar. “O paciente deve se atentar aos alimentos ricos em oxalato, como café, achocolatados, chá preto, mate ou verde, chocolate, espinafre, nozes e amendoim. Essa substância favorece a formação de cálculos quando consumida em excesso”, explica a médica. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, é recomendado, sim, consumir de 4 a 5 porções de leite ou seus derivados. “O corpo humano necessita de uma ingestão diária de 1g de cálcio. Cada copo de leite (200 ml) tem aproximadamente 200 mg de cálcio, então para suprir a necessidade diária, são necessários 5 copos de leite por dia. Você pode substituir o leite por derivados como queijo branco com pouco sal, ricota, iogurtes e coalhadas”, conta a médica. “Também é necessário evitar tomar suplementos vitamínicos sem a orientação de um médico. O excesso de algumas vitaminas (C e D) pode levar a formação de cálculos. Portanto, não use sem a orientação de um médico. E consulte sempre um nefrologista para investigar problemas renais”, finaliza.

FONTE: *DRA. CAROLINE REIGADA: Médica nefrologista formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro, com residência médica na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e residência em Nefrologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a médica participa periodicamente de cursos e congressos, além de ter publicado uma série de trabalhos científicos premiados. Participou do curso “The Brigham Renal Board Review Course” em Harvard. Integra o corpo clínico de hospitais como São Luiz, Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Instagram: @dracaroline.reigada.nefro

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