Home » É possível engravidar com baixa reserva ovariana?

É possível engravidar com baixa reserva ovariana?

Publicado em 15 de agosto de 2022

 

Conversamos com o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, para entender mais sobre o conceito de reserva ovariana e de que forma ele interfere no sucesso da gravidez
gestação

 À medida que os tratamentos de reprodução assistida ganham mais destaque nacionalmente, esbarramos em temas que são correlacionados à saúde reprodutiva. Um deles é reserva ovariana, um conceito que faz muitas mulheres ficarem preocupadas. “A reserva ovariana reflete o estoque de óvulos da mulher. Então quanto maior é a reserva ovariana, mais estoque de óvulos ela tem. Isso significa que ela vai demorar mais tempo para chegar na menopausa, que é quando todo esse estoque se esgota, e também que essa mulher vai ter mais óvulos se fizer algum tratamento para engravidar e, consequentemente, com a qualidade dos óvulos, teremos mais chance de gravidez também”, explica o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), diretor clínico da Neo Vita e Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Mas não se assuste: é perfeitamente possível engravidar com baixa reserva ovariana! Abaixo, o especialista explica melhor o conceito que está ligado à fertilidade:

1) A reserva ovariana diminui com a idade?

FERNANDO PRADO: Sim, a reserva ovariana diminui com a idade. O maior estoque de óvulos que a mulher tem é ainda quando ela está na barriga da mãe dela, na gravidez, por volta da metade da gestação, com 20 semanas. Esse estoque de óvulos é por volta de 7 milhões de folículos (ou óvulos) nessa época. Quando a menina nasce, essa quantidade já reduz bastante, ficando aproximadamente em 2 milhões de folículos primordiais ou de óvulos. E aí continua caindo mais ainda. Quando chega na primeira menstruação, com 12 anos, a menina já perdeu mais 3/4, então daqueles 2 milhões que ela tinha quando nasceu, ela chega com 400 ou 500 mil óvulos na idade da primeira menstruação. E esses óvulos vão ser os úteis que ela vai usar para engravidar até que acabe todo o estoque, quando ela chega na menopausa por volta dos 45, 50 anos. Ela vai ter esses 500 mil óvulos para usar durante esse período de mais ou menos 40 anos.

2) Mulheres jovens, com menos de 30 anos, também podem sofrer com baixa reserva ovariana?

A reserva ovariana pode ser alta ou baixa em qualquer época da vida e existem alguns fatores que influenciam. O primeiro é a questão genética. Existem mulheres que já nascem com estoque mais alto, geralmente são aquelas que têm ovário policístico, e também têm o contrário, mulheres que nascem com o estoque mais baixo, são aquelas que têm um histórico familiar de mãe, tia, irmã que entraram na menopausa mais cedo. Mas não é só a questão genética, há também a questão ambiental. Algumas substâncias, alguns medicamentos, exposição à radiação, qualidade de vida, tudo isso pode reduzir o estoque de óvulos e até mesmo mulheres abaixo de 30 anos podem ter uma baixa reserva ovariana.

3) Por que isso acontece?

Acontece por várias causas, desde a questão genética que a pessoa já nasce com estoque mais baixo, mas principalmente o que a gente observa são as questões ambientais e isso tem muito a ver com o estilo de vida que levamos hoje, quando há muito consumo de comida industrializada, muita exposição ambiental, além de influência da exposição à radiação, ao micro-ondas, medicamentos, comida estragada, o próprio envelhecimento, tudo isso vai afetando a qualidade dos óvulos. A radiação é algo bastante importante, o próprio raio-x ou em casos extremos que vemos pelo mundo, mas que acontecem eventualmente (como em questão de usinas nucleares), também podem afetar muito o estoque de óvulos. E alguns tratamentos que podem ser considerados iatrogênicos, quando têm um efeito médico indesejado, como o uso de methotrexate, alguns antibióticos, alguns hormônios análogos do GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina), todos esses podem levar a uma redução da reserva ovariana.

 

4) Existe alguma maneira de saber qual o estado da reserva ovariana?

 

Existem basicamente dois exames que conseguimos avaliar a reserva ovariana. Um deles é um ultrassom transvaginal, que deve ser feito durante o período menstrual ou bem no comecinho do ciclo menstrual; é feita uma análise no ultrassom chamada de contagem de folículos antrais, que é a medida do estoque de óvulos que conseguimos enxergar no ultrassom. São aqueles folículos que têm pelo menos de 5mm a 10mm para menos, que são os que contamos, para ver o estoque de óvulos. Esses folículos antrais são aqueles que estão prontos para crescer naquele ciclo menstrual. Se for um ciclo sem hormônio externo, só vai crescer um. Se for um ciclo estimulado, a tendência é que todos esses cresçam e aí a mulher tenha vários óvulos. Um outro exame, além do ultrassom, é de sangue, é um hormônio, que se chama hormônio anti-mülleriano (AMH), que é o melhor marcador de reserva ovariana que existe. Ele tem algumas peculiaridades: pode ser colhido em qualquer fase do ciclo, a mulher pode estar grávida, pode estar tomando pílula, hormônio, não tem uma grande variação de um ciclo para outro, então ele dá um valor muito preciso e quanto mais alto for o valor do hormônio anti-mülleriano, maior é o estoque de óvulos. Claro que existem algumas interferências, por exemplo mulheres que tomam biotina podem ter ele um pouquinho mais baixo, usuárias de pílula também podem ter mais baixo, então a gente recomenda que a mulher suspenda por um tempo o uso dessas medicações antes de dosar o AMH, mas de qualquer forma o resultado não vai ser tão diferente se ela tiver usando ou não.

 

5) É possível engravidar com baixa reserva ovariana?

 

É possível. Como em uma gravidez natural, em que só precisamos de um óvulo para chegar na gravidez. É lógico que é uma questão estatística: quanto mais óvulo, mais chance de encontrarmos óvulos bons no meio destes, então a qualidade também é encontrada no meio da quantidade. Mas, em tese, basta um óvulo bom. Então mulheres com baixas reservas podem sim engravidar desde que esses óvulos tenham uma qualidade alta e isso está muito mais relacionado à idade da mulher do que o número de óvulos. Mulheres com menos de 40, especialmente com menos de 35 anos, mesmo tendo uma baixa reserva, têm uma grande chance de engravidar.

 

6) É necessário utilizar métodos de reprodução assistida?

Não necessariamente é preciso reprodução assistida para engravidar nesses casos. Mas como o estoque de óvulos não é tão grande, a gente não recomenda que a mulher espere muito tempo nessas tentativas naturais. Se ela tem menos de 40 anos e não está conseguindo engravidar de seis meses a um ano, já é uma boa ideia ela procurar um tratamento. Agora se a mulher tem mais de 40 anos, ela não deve esperar nada, já deve pensar num tratamento de reprodução assistida para poder chegar logo na gravidez.

 

7) O que deve ser feito nesses casos?

Fazemos uma avaliação principalmente desse estoque de óvulos com essas duas medidas citadas, o hormônio anti-mülleriano e o ultrassom com contagem de folículos antrais, e a partir daí o médico determina qual o melhor protocolo de indução da ovulação para estimulação ovariana, e partir para fertilização in vitro. Se for uma tentativa natural, é preciso avaliar, pelo espermograma, se o sêmen do marido é normal, se eles conseguem engravidar naturalmente, se não há nenhum problema masculino, e também se a mulher não tem nenhum problema nas trompas, porque não adianta ter um sêmen bom e um óvulo de boa qualidade se não vai acontecer a fertilização naturalmente. Então sempre deve ser necessário uma avaliação médica para saber qual a melhor alternativa, se é partir logo para um tratamento de reprodução assistida ou se é possível aguardar para uma gravidez natural.

FONTE: *DR. FERNANDO PRADO: Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Whatsapp Neo Vita: 11 5052-1000 / Instagram: @neovita.br / Youtube: Neo Vita – Reprodução Humana.

Nenhum comentário ainda